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Boa leitura.
http://revistapaisefilhos.com.br/crianca/comportamento/direito-a-inocencia
Direito à inocência
Projeto visa capacitar professores para combater abuso infantil
O abuso sexual infantil e os maus tratos são considerados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um dos maiores problemas de saúde pública do planeta, vitimando 36% das meninas e 29% dos meninos ao redor do mundo. De acordo com a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, uma criança é vítima de abuso sexual a cada oito minutos, sendo que 80% das vítimas são meninas com idade entre 2 e 10 anos.
Mesmo chocando a sociedade, esse tipo de crime ainda é recorrente. Foi pensando nisso que Bianca Garibaldi fundou o Projeto Direito à Inocência. A ação tem como objetivo especializar professores para o combate aos crimes de maus tratos e abuso sexual infantil. Bianca explica como surgiu a ideia do projeto e indica quais as melhores ações para reduzir esse tipo de crime.
1. Como surgiu a ideia do projeto? Por que você decidiu abraçar essa causa?
A ideia do projeto surgiu na minha pós-graduação, na cadeira sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, onde tínhamos que desenvolver um trabalho de campo. Após muito pesquisar, verifiquei que no Brasil só há campanhas sobre esse problema, não há um trabalho efetivo e contínuo. Na pesquisa de campo verifiquei que a maioria dos casos de maus tratos e abuso ocorrem no âmbito familiar, dificultado as denúncias - seja porque nenhum familiar quer expor o outro, ou porque os vizinhos não querem se envolver. Neste caso, a figura do professor é essencial, pois é nele que a criança confia. No trabalho de campo, feito em nove escolas, foi visto que ele tem muita vontade de entender e denunciar estes crimes. Assim nasceu o projeto que visa especializar os professores para o enfrentamento destes problemas.
Eu decidi abraçar porque vejo que a sociedade absorve a violência infantil, não se choca mais com tantos casos e, principalmente, não se dá conta que estas crianças criadas em famílias que são vítimas de violência física, psicológica e sexual irão reproduzir este comportamento. Esse ciclo tem que ter um basta.
2. Como os pais podem conversar com os filhos nas várias faixas etárias para ajudá-los a se proteger do risco de abuso?
Os pais não devem ter medo de conversar com seus filhos sobre sexualidade, mesmo com as crianças mais novas. Claro que de forma branda. Assim, desde cedo as crianças devem ser alertadas que seu corpo é algo só delas.
Os pais devem ter uma relação de confiança com os filhos, sempre mostrando que se importam com eles e com seus sentimentos, que eles podem contar qualquer coisa que os pais irão entender e, acima de tudo, que as amam.
A comunicação em casa deve ser feita de forma livre e constante, pois o abuso não ocorre só com relação sexual ou manipulação das partes íntimas, há inúmeras formas de abuso. Além disso, os pais tem que ter consciência de que nem sempre o estranho nestes casos é o perigo, porque o abusador pode ser alguém conhecido, inclusive do círculo familiar.
3. Existem livros, filmes, vídeos específicos para criança que facilitem esse diálogo?
Sim, indico dois livros maravilhosos para serem lidos pelas crianças e adolescentes: Segredo Segredíssimo, da autora Odívia Barros; e o Segredo de Tartanina. Além disso, um filme muito interessante é C@nfiar, que trata da temática de crimes sexuais, fruto do uso da internet, e o livro Uma chance para Lucas, para os pais.
4. Como abordar a questão na escola? Qual o papel do professor e das instituições de ensino públicas e privadas?
Primeiro, os governos têm de ter consciência de que além de pagarem salários justos aos professores, tem que haver um assessoramento, pois a violência hoje faz parte do cotidiano das escolas, sejam elas públicas ou particulares. A especialização feita pelo projeto junto aos professores traz segurança e conforto para os educadores, pois eles passam a entender as muitas formas de abuso e também podem relatar suas experiências, aliviando a tensão que situações de violência escolar geram neles. Por exemplo, um aluno problemático que é agressivo pode estar sofrendo violência em casa. O fim dessa situação, juntamente com um tratamento psicológico adequado, poderá mostrar ao professor outro aluno em sala de aula.
A sociedade hoje anseia por mudanças e também por pessoas preparadas para conduzir estas mudanças. É aí que entra o professor, peça fundamental na história e que, por isso, precisa estar bem preparado e também ter tranquilidade para transmitir conhecimento às nossas crianças.
No caso dos crimes contra criança, o professor é importantíssimo porque ele tem o papel de "cuidador" em relação aos seus alunos e goza da confiança destas crianças e adolescentes. Por isso, ele pode ser agente para o combate da violência infantil, seja denunciando ou propagando os sintomas e os prejuízos que uma criança ou adolescente sofre ao ser vítima de alguma das formas de abuso.
As instituições públicas ou privadas devem se importar com esse ser, pois o que eu vejo é que as instituições investem em estrutura física e educacional, somente na parte do ensino, mas não se preocupam em enfrentar essa problemática. Digo isso, pois poucos dias atrás enviei para os dez maiores colégios particulares de Porto Alegre um e-mail oferecendo a palestra aos professores e não tive retorno de nenhum deles, ou seja, não há uma vontade de ajudar, de mudar essa realidade.
Um ponto importante que eu sempre falo em minhas palestras é que a violência infantil, seja física, psicológica ou sexual, não acontece só nas classes mais baixas. Por isso, todas as instituições particulares ou públicas devem adotar o projeto.
5. Qual a importância de denunciar? Como denunciar?
A importância de denunciar é acabar com esse ciclo, pois sem tratamento, a criança que é vítima, irá repetir este comportamento, porque será a realidade na qual ela irá crescer. Assim, não há como se dizer "não vou denunciar, não quero me meter, não é problema meu". É sim, é um problema de todos! Temos que ter consciência de que uma criança que cresce em meio violento irá reproduzir isto. Muitos dos criminosos que cometem crimes, às vezes bárbaros, foram crianças criadas em ambientes de grande violência, ou seja, se formos omissos agora não poderemos depois culpá-los. Precisamos dar um basta! Além disso, hoje contamos com uma boa estrutura de atendimento no país, há algumas falhas, mas temos o DISQUE 100, os conselhos tutelares, e a denúncia que pode ser anônima.
6. Como orientar as crianças e protegê-las do assédio que pode vir via internet e smartphones?
A orientação primordial para os pais é que os computadores devem ficar em áreas comuns da família, mas se não for possível devem ser usados mecanismos de bloqueios de determinados sites. Conversar com as crianças e adolescentes de que chats e programas de bate-papo são perigosos. No caso de crianças, estas devem ser proibidas. No caso dos adolescentes, eles devem ser alertados de que muitos pedófilos frequentam estes chats.
Mostrar que fotos e vídeos não devem ser enviados a estranhos ou divulgados em sites. E isso vale também para os pais, que devem preservar os filhos, não colocando fotos destes em suas páginas.
Além disso, deve-se conversar, conversar e conversar, pois muitas pessoas estão trabalhando para proteger seus filhos, eu sou uma delas, mas preciso do apoio e da atenção de todos vocês!
Blog do projeto: http://direitoainocencia.wordpress.com/
Por Adriano Vieira Nascimento, Advogado, com escritório na Avenida Liberdade, n.º 1360 sala 208, bairro Santa Isabel. Telefone 51 3435.18.43. Sítio www.vieiranascimento.adv.br - e-mail contato@vieiranascimento.adv.br
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